Choque de Mestres
Na semana passada estive no Fórum Internacional de Gestão e Liderança, onde ouvi alguns pensadores do mundo empresarial desfilarem suas idéias. Percebi que dois deles agradaram particularmente ao público: Vicente Falconi e Dan Arieli. O primeiro refletindo sobre a importância dos processos nas organizações e o segundo falando sobre descobertas com relação ao funcionamento do cérebro humano e seu impacto na realidade dos negócios. A primeira vista, duas abordagens distintas que podem contribuir de formas diferentes para o ganho de eficácia nas empresas. Uma leitura mais cuidadosa, entretanto, revela uma tensão entre as abordagens desses respeitáveis consultores. No frigir dos ovos o que o Falconi diz é: gestão é uma coisa simples que as pessoas complicam. Basta estabelecer objetivos, desenhar um processo que te conduza ao atingimento desses objetivos, colocá-lo em prática e conferir se as coisas estão acontecendo. Sem frescura. Sem afetações. Ele deixa claro que se as pessoas que trabalham em uma empresa arregaçarem as mangas e colocarem o processo para rodar, as coisas vão acontecer. E ponto. É só uma questão de racionalidade. Basta ser racional. E é exatamente aí que a roda começa a pegar. Os estudos de Dan Arieli mostram que o ser-humano é tudo. Menos racional. A fantasia que permeou a humanidade nos últimos séculos é de que somos seres racionais; mas as descobertas recentes da neurociência desmentem todo dia essa premissa. E se não somos racionais temos grande dificuldade de agir racionalmente como quer Falconi. Isso não significa que a proposta dele é inútil. Muito pelo contrário. E os inúmeros casos de sucesso que sua consultoria apresenta é evidência inequívoca de seu acerto. É importante buscar a padronização e o método, mas sem se esquecer que precisamos alimentar a alma humana de forma a fazê-la funcionar dentro do método criado. Não basta dizer que a pessoa deve fazer porque é a coisa racional a ser feita. O desafio é construir na alma de cada colaborador a convicção de que o que deve ser feito está repleto de significado. Caso contrário não será feito, ou o será de forma ineficaz. Vicente Falconi fala com orgulho de que sua filosofia está baseada no grande Descartes. Um dos gênios da humanidade que ajudou a arrancar o homem de um pensamento místico e colocou a história no caminho do pensamento científico tão necessário para a era industrial. Mas feliz ou infelizmente a dinâmica que rege o mundo hoje, vai além do racionalismo. A diferença se faz através da criatividade, do comprometimento e da sensação de significado. Todo nosso respeito e dívida eterna a Descartes. Mas depois dele vieram Kant e Sartre. Wittgenstein e Poppe. Eles não destruiram a importância do método, mas definitivamente o relativizaram. E é isso que é importante fazer com o raciocínio e Falconi. Relativizá-lo. O método é o ponto de partida. Mas ele só fluirá se estiver em consonância com a alma humana. Que definitivamente não é racional.