Aprender ou Fingir que Aprende?
Quando observo o que chamamos hoje de economia do conhecimento percebo um curioso dilema vivido por um enorme batalhão de pessoas. É praticamente unanime – e ostensivamente endossados pela mídia – a ideia de que uma dos ativos mais importantes para o sucesso é aquilo que você sabe. E, filosofias a parte, para saber você tem que aprender. Existe uma pressão explícita para que todos aprendam continuamente e não se discute que só atingirão o êxito aqueles que se propuserem a adquirir novos conhecimentos. E aí reside um paradoxo que deixa muitas pessoas ansiosas. Para aprender, as pessoas precisam se dedicar. Estudar. Refletir. Pensar. E não hesito um segundo para afirmar que a maioria esmagadora dos seres que habita nosso mundo não gosta disso. Estudar cansa. Refletir custa energia. Pensar exige serenidade e tempo. Ler demanda um sacrifício que as pessoas não estão dispostas a fazer. E se você considerar que a maioria do conhecimento armazenado atualmente em nossa sociedade está na forma de textos, não gostar de ler é abrir mão de uma enorme massa de conhecimento que poderia ampliar seu universo cognitivo.
Essa situação gera uma enorme ansiedade nas pessoas: “O mundo me pressiona para aprender, mas eu não gosto disso. Vou fracassar. Preciso fazer alguma coisa. Mas não quero me impor todo o sacrifício necessário”. Essa fenda existencial abre uma abissal oportunidade de mercado. Algumas pessoas, até sem consciência do enorme desserviço que prestam, percebem isso e correm para oferecer o balsamo para tal ferida, colhendo os ganhos pela venda do perigoso analgésico. O que elas fazem é gerar um conteúdo lúdico e fantasiá-lo de conhecimento. Criam palestras sobre gestão que na verdade são shows de histórias e piadas. Um stand-up comedy disfarçado. Ou então formulam um treinamento de estratégia que na verdade é um exercício de catarse coletiva. Outros escrevem livros de histórias meladas e dizem que o volume diz respeito à comunicação, ou qualquer coisa que pareça mais sério. Com isso oferecem algo que as pessoas realmente gostam: diversão! Mas com roupa de conhecimento. E com isso as pessoas dizem para a sua consciência: “Agora sim! Estou aprendendo. Posso dormir tranquilo. Estou me preparando para esse mundo competitivo em que vivemos!” Não estão. Estão predominantemente se divertindo. Nada contra a diversão, muito pelo contrário. Diversão é muito importante. Sand-up comedy é delicioso. Eu adoro e vejo sempre que posso. Exercícios de catarse fazem bem. Ler livros de histórias e estórias – mesmo as meladas e bregas – é fundamental. A fantasia é outro combustível importante para a criatividade, que também está ligado ao sucesso. Essas atividades devem fazer parte da nossa vida. Porque são boas em si e porque também colaboram para o nosso desenvolvimento. Mas elas não substituem a aquisição de conhecimento. Apenas complementam. Assim como o analgésico não substitui o antibiótico. Ele o complementa. Quando alguém tem uma infecção que gera dor é necessário que o analgésico retire a dor, mas enquanto isso os agentes infecciosos devem ser combatidos pelo antibiótico. São substâncias complementares. Que agindo juntas geram um resultado positivo.
Como devem ser complementares o alimento à alma (a diversão) e o alimento à mente (a aquisição de conhecimento).
Na área empresarial, onde a pressão pelo conhecimento é particularmente evidente, muitas pessoas estão se enganando. E isso é ruim. Porque em alguns anos vão perceber que se divertiram muito, mas aprenderam pouco e que estão sendo deixados para trás pelos que aprenderam muito e se divertiram pouco e principalmente por aqueles que se divertiram muito e aprenderam muito.
E como isso é possível? Como alguém pode aprender muito e se divertir muito? Essa é a essência da nossa visão andragógica, sobre a qual falarei em um próximo post para não ser mais extenso do que já estou sendo. Alerto que se divertir muito não exclui dedicação, trabalho e até um pouco de sacrifício. Sem entrega não há aprendizado. Ou pelo menos posso afirmar que sem esses ingredientes o aprendizado não chega nem perto de realizar todo o seu potencial.
E acredito intensamente que para nos realizamos plenamente como seres humanos, precisamos dar vazão a todo o potencial que temos disponível. Temos a obrigação de nos transformarmos naquilo que podemos ser. E o conhecimento não é o único ingrediente. Mas é um dos fundamentais.