Preciso de Talento ou Posso ser o que Quiser?
Posso ser o que eu quiser, desde que me esforce o suficiente?
Para os vendedores de sonho que borbulham no mercado, ávidos por vender livros, palestras e programas, a qualquer custo, a resposta seria um esfuziante sim.
Para quem se preocupa em servir aqueles que querem se desenvolver com honestidade intelectual e levando em conta o que a ciência comportamental e a neurociência vêm estudando, a resposta é: depende.
Mas depende do quê?
Depende do significado atribuído a expressão “ser o que eu quiser”. Se a intenção for fazer “qualquer coisa” num nível aceitável, a resposta é: provavelmente sim. Se o objetivo for atingir a excelência a resposta é: um definitivo não.
Falando primeiro da vida pessoal: se você quer aprender a jogar, digamos, Beach Tennis, o suficiente para brincar com os amigos e se divertir, basta se dedicar e você vai atingir suas metas.
É verdade que algumas pessoas vão ficar num nível sofrível, mesmo se dedicando muito, mas a grande maioria das pessoas deve conseguir atingir um nível de proficiência mínima com o esforço certo.
Mas se você quiser atingir o nível profissional e viver desse esporte, vai precisar de algo mais. Um nível mínimo de aptidão é indispensável, nesse caso.
O mesmo vale para a esfera profissional. Se você quer, por exemplo, fazer apresentações decentes, que não comprometam e lhe permitam aprovar seu “budget” para o ano diante da diretoria, basta se dedicar, estudando os princípios que regem uma boa comunicação e aprendendo as melhores técnicas de exposição.
Agora, se você quer se diferenciar por sua desenvoltura e naturalidade diante de um auditório e se transformar num apresentador profissional próspero em um veículo de comunicação respeitado, num palestrante que arrebata multidões ou num executivo que hipnotiza a todos em suas intervenções … mais uma vez é preciso contar com certos talentos, como ponto de partida.
A importância do Talento
O fato é que, exceto em situações patológicas, todos os seres humanos podem melhorar em tudo que quiserem, geralmente atingindo o nível aceitável com o esforço adequado.
Mas para atingir o estado da arte em qualquer área de atividade são necessários padrões naturais de sentimento, pensamento e comportamento.
E note que não disse inato, pois cada vez fica mais claro que a formação das sinapses (ligações entre neurônios no cérebro), responsáveis pela construção da infraestrutura neurobiológica, são impactadas tanto pelo nascimento quanto por eventos de sua vida – principalmente no início dela – em proporções ainda não quantificadas – se é que seja quantificáveis com exatidão transversal na população.
O que se sabe, até o momento, é que a neuroplasticidade diminui com o tempo e que depois dos treze ou quatorze anos começa a desacelerar de forma mais intensa. E quando chega aos vinte e poucos anos, os tais padrões naturais de sentimento, pensamento e comportamento – que chamamos de talentos – estão estabelecidos com grande profundidade na nossa essência e mudam muito pouco.
E qual a implicação prática do Talento para a sua vida?
Na prática, isso significa que se você tem um conjunto de talentos compatíveis com uma determinada atividade, vai precisar de muito menos esforço para atingir a excelência nela. Entendendo que a excelência é a capacidade de entregar um resultado quase perfeito, consistentemente, em tal atividade – que a Gallup chama de Ponto Forte.
Ao contrário, se você buscar a excelência em uma atividade que requer um talento que você não tem, o esforço será enorme e os resultados têm grande chance de ficar abaixo das suas expectativas.
Investindo em seus Talentos
Imagine uma situação em que você tenha um valor em dinheiro para investir e precisa escolher entre uma aplicação com uma alta rentabilidade e outra de baixo retorno. Qual você escolheria? Chega a ser patética tal pergunta. É claro que, considerando a afinidade natural do ser humano por mais benefício com menor esforço, todos escolheriam a maior rentabilidade.
O mesmo acontece quando o tema é o seu desenvolvimento. Se você investir suas moedas mais importantes (tempo e energia) em seus talentos dominantes, eles têm grande chance de vir a se transformar pontos fortes que lhe abrem as portas para a excelência. Se você investir em seus talentos menores ou ausentes, o resultado será muito menor. Afinal, o talento é a matéria prima da excelência.
E aí fica a pergunta: para que investir em seus não talentos que geram pouco resultado para cada moeda de dedicação, se você pode investir nos talentos, que geram muito resultado para cada uma dessas patacas? Olhando pela perspectiva objetiva, não existe nada que justifique esse comportamento. É absolutamente irracional.
Prazer sem Talento
Mas se olharmos pela perspectiva subjetiva, existe um motivo possível: se você gostar muito da atividade, mesmo que não tenha talento para ela – o que é bem menos comum. O ser humano costuma gostar do que faz bem. Mas é importante que se diga que, sim, existem situações em que você se apaixona por algo para o que não tem inclinação. Geralmente influenciado por astros ou amigos. Crianças com relação ao futebol no Brasil e Europa e os mesmos “kids” com o basquete e baseball nos Estados Unidos são exemplos evidentes.
E não existe nenhum problema em se dedicar a tal atividade, desde que se tenha consciência clara de quais os seus objetivos. Desde que se saiba que o intuito é extrair prazer da atividade em si. Isso porque geralmente é frustrante depositar muito esforço em uma atividade e colher poucos frutos. Mas se o prazer estiver na execução da atividade em si, o retorno se torna menos importante.
De qualquer forma existe um risco, para o qual é fundamental estar atento: a perda da auto-estima contaminar outras áreas da sua vida. Isso pode acontecer porque quando nos dedicamos verdadeiramente a algo e não conseguimos extrair aquilo que esperávamos, corremos o risco de nos auto denominarmos incapazes.
E aquela sensação de incapacidade que num primeiro momento está circunscrita e associada a certa atividade específica, pode se espalhar para toda a nossa auto-percepção, fazendo-nos o desserviço de rebaixarmos a nossa auto-avaliação no sentido amplo, com o que passamos a nos julgar, não apenas incapazes naquela atividade, mas ineptos lato senso.
O uso não convencional de um Talento
Isso significa que se eu não tiver os mesmos talentos das pessoas que atingiram a excelência numa dada atividade eu não conseguirei ser excelente de forma alguma? A resposta dentro da perspectiva estatística é provavelmente não. Mas provavelmente, não significa absolutamente não.
E o que é necessário para romper a barreira da improbabilidade? A capacidade de conhecer os próprios talentos, valorizá-los e encontrar uma forma não convencional de atingir a excelência. Não convencional, pois tenho que criar uma trilha ainda não existente. Um jeito meu, particular de conseguir o que quero. O que é menos provável, mas não impossível.
O exemplo que melhor ilustra essa situação vem das pistas de corrida. Usain Bolt velocista jamaicano multicampeão olímpico e mundial, considerado o homem mais rápido da história. Se observarmos o arquétipo dos corredores de 100 metros rasos excelentes de todos os tempos, todos terão características semelhantes. Um pouco mais baixos, extremamente musculosos e com uma explosão incrível. Nada parecidos com Bolt: alto, longilíneo e sem grande explosão.
Mas ele “pegou o que lhe ensinaram” e criou o seu jeito de fazer, valorizando sua altura e enorme velocidade final e transformou no melhor desempenho possível na prova mais rápida do atletismo. Ou seja, ele partiu dos seus talentos, valorizou-os, enfatizando os treinos naquilo que era melhor – a chegada – ao invés de dedicar mais tempo para corrigir suas fraquezas – a largada – e articulou seus talentos para conseguir a excelência.
No mundo empresarial a história se repete com certa frequência. Quando um profissional cria seu próprio jeito de atingir a excelência. Tive coachees, que não carregavam o tema de talento comunicação, e ainda assim, eram grandes apresentadores, com base em talentos como empatia, carisma e até foco.
Resumindo
A melhor forma de atingir a excelência é partindo dos próprios talentos e transformando-os em um ponto forte. E eventualmente eu posso até usar talentos não tradicionalmente conectado à excelência em uma dada área. E embora, nesse caso, tenha menor chance de chegar ao êxito, isso não implica em um necessário insucesso. Mas, certamente, significa uma menor probabilidade.
Então, a conclusão é que eu não posso ser o que quiser se o que quero é excelência. Eu posso sim ser excelente em muitas áreas, mas não em todas que quiser. E quanto mais o que quiser estiver ligado com meus padrões naturais de sentimento, pensamento e comportamento, maior minha chance de ser bem sucedido.
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