Resumo do Livro “The Vaccine” de Joe Miller
Conheça a história dos cientistas casados que fundaram a BioNTech e desenvolveram a primeira vacina contra o Covid-19.
Preparamos por aqui um resumo para você! E se gostar, corra para a sua livraria favorita.
Capítulo 1: A Eclosão.
Uğur Şahin e Özlem Türeci, são um casal de imunologistas de origem turca que vivem em Mainz na Alemanha com sua filha adolescente, e lideram a BioNTech, empresa de pesquisa que fundaram, depois de estudar medicina e obter doutorados em imunoterapia (Uğur) e biologia molecular (Özlem). Apesar do foco da BioNTech ser o combate ao câncer, o espírito curioso e as competências (lógicas, biológicas e matemáticas) que construiu ao longo da vida fizeram com que Uğur percebesse antes da maioria das pessoas o perigo da situação que emergia com o vírus originário de Wuhan, e acreditasse na possibilidade de que sua empresa pudesse desenvolver uma vacina eficaz para o Covid-19. Em grande parte baseado nos conhecimentos de novas tecnologias usadas para combater o câncer, entre elas a do RNA, uma molécula semelhante ao DNA, considerada por muitos a provável substância primária no processo de desenvolvimento da vida, com enormes possibilidades no combate a tumores e vírus, mas com uma instabilidade e falta de potência que dificulta a sua utilização prática. Enquanto os casos de infecção ainda engatinhavam no mundo, o casal já realizava as primeiras investigações para entender o que havia sido pesquisado na área e o quanto se sabia sobre o novo vírus; até que em 24 de janeiro de 2020 se comprometeram privadamente a trabalhar numa vacina para combatê-lo.
Capítulo 2: Projeto Velocidade da Luz.
As projeções de Uğur pareciam começar a se confirmar e sua crença de que uma pandemia estava a caminho ficava cada vez mais firme, o que faria com que métodos não clínicos (higiene, máscara e quarentenas) fossem insuficientes, colocando a criação de uma vacina como única alternativa. Foi então que ele começou a negociar com os líderes de sua empresa, agora uma companhia pública, a criação de um projeto para criação da vacina. Mas as circunstâncias deixavam claro que ele precisaria reescrever o manual de desenvolvimento desse tipo de substância, construindo e testando múltiplas substâncias ao mesmo tempo e não de forma sequencial. Enquanto isso a enfermidade se espalhava pelo mundo dando sinais da envergadura do perigo previsto, transformando o tempo num inimigo da vida. Considerando que a BioNTech não era uma empresa dedicada a doenças infecciosas, um projeto como esse era uma tacada muito pesada que colocava em risco a existência da organização, caso não vingasse. Não só porque a vacina poderia não funcionar, como também existia a chance de que ela pudesse trazer danos a quem usasse. A primeira tentativa de aproximação com a Pfizer para um projeto conjunto, não foi bem sucedida pois seus executivos não acreditavam que a BioNTech estivesse madura para esse desafio. Mas Uğur acreditava que era uma questão de tempo. Na medida em que o projeto evoluísse dentro da BioNTech, ficaria claro para a gigante farmacêutica que a parceria era positiva. A confiança já construída com os profissionais das agências reguladoras acelerou o processo de planejamento dos primeiros passos e os cientistas dessas instituições mantiveram a postura de colaboradores no estabelecimentos das bases das pesquisas e suas avaliações e não agiram apenas como fiscalizadores. Todos trabalhavam para entender as relações de retorno e risco de cada estratégia. Ficava cada vez mais evidente que o combate à nova ameaça precisaria ser um esforço comunitário. O que fez com que a BioNTech começasse a mobilizar também parcerias com outras organizações e pessoas, além de acelerar a integração da Acuitas, uma pequena empresa canadense recentemente por ela adquirida. Afinal, existiam grandes desafios como por exemplo, combinar a tecnologia do RNA com a do envelopamento da molécula em lipídios para que pudessem chegar ao seu destino no corpo humano.
Capítulo 3: O Desconhecido.
Em 13 de fevereiro de 2020 os 1.300 colaboradores da BioNTech se reuniram para o encontro bi-anual, e as apresentações deixaram claro que as atividades planejadas iriam consumir todo o caixa até o meio de 2021 o que exigia o levantamento de mais recursos. Nesse encontro Uğur, aproveitou para anunciar para todo o time sobre o desafio de desenvolver a vacina para a Covid-19, o que foi visto como mais um projeto dentro do portfólio da BioNTech. As dúvidas, então começaram a surgir: era possível desenvolver uma vacina para esse vírus? Muitos, tais como o HIV e Hepatite C, mostraram que nem sempre é. Existiria possibilidade de reinfecção? Haveria chance da vacina enfatizar os efeitos da doença? Já tinha acontecido com o vírus RS, no passado, o que trazia enormes preocupações para os reguladores. Por outro lado parecia que se tratava de um vírus vulnerável, pois era unidimensional e usava sempre a mesma estratégia para entrar nas células. E aqui uma outra dúvida emergia: deveriam criar uma vacina que reproduzia uma parte da estrutura do vírus ou toda ela? Conseguiriam eles fazer com que as células de combate ao vírus agissem na hora certa? Entre tantas incertezas algumas certezas emergias: não deveriam se preocupar demasiadamente com confidencialidade para facilitar o processo de colaboração com outras instituições; e deveriam estar abertos a todas as teorias que os pudessem ajudar e não se apegar a nenhuma por crenças ou política. Além do que Uğur precisava convencer sua equipe que era possível agir de forma muito mais rápida do que em situações convencionais e completar tarefas em paralelo, o que não era tão comum nos outros projetos. Enquanto as dúvidas e certezas emergiam, as cenas apocalípticas já observadas na China, começavam a acontecer na Europa.
Capítulo 4: Os Biohackers de mRNA.
A BioNTech estava bem atrás da linha de partida na corrida pela vacina, pois as fabricantes tradicionais de vacinas tinham muitas vantagens estabelecidas: plataformas testadas, experiências em estudos desse tipo e estrutura para produzir bilhões de doses. Por outro lado a BioNTech poderia lançar mão de toda sua caixa de ferramentas para trabalhar com o RNA e todo seu potencial de produzir respostas a partir de uma série de instruções ao invés de tentar inocular o vírus ou uma parte do vírus nas pessoas. Isso era possível porque o casal tinha estudado profundamente o sistema imunológico humano e concluído que ele tinha o potencial para combater o câncer em toda a sua especificidade a partir do RNA, tendo desenvolvido substâncias que eram consideradas vacinas contra tumores malignos. E nessa jornada tinham se aproximado e recrutado muitos cientistas apaixonados pela RNA ou que acabaram se apaixonando na medida em que trabalhavam com eles; o que se constituía numa equipe de alta performance com relação ao tema.
Capítulo 5: Os Testes.
Em janeiro de 2020 a BioNTech era uma companhia dedicada ao combate do câncer, mas seus líderes sabiam que as tecnologias que haviam desenvolvido para combater esse poderoso inimigo do corpo humano, poderiam ser usadas para melhorar vacinas e tratamentos para outras doenças. Para isso, Uğur deixou claro que precisariam focar em seus pontos fortes que estavam ligados às competências para combater enfermidades complexas, tais como HIV, tuberculose e malária e não com a gripe simples, à qual muitas companhias já se dedicavam. Com esse objetivo em vista já haviam trazido para o time alguns virologistas que formavam uma equipe muito pequena e que constituiu a base para o projeto Ligthspeed (Velocidade da Luz), nome dado à busca da vacina para a Covid-19 na BioNTEch. Juntando todos os conhecimentos de combate ao câncer com seu time de virologistas, a BioNTech começou sua jornada. Ao longo do tempo a empresa tinha descoberto várias formas de RNA (mRNA, uRNA, modRNA, saRNA e taRNA) e precisava testar todos para saber quais teriam maior probabilidade de interagir com os lipídios (alguns criados por outras instituições) que os envelopariam rumo ao destino no corpo humano e quais funcionariam melhor uma vez lá. Não havia tempo para uma abordagem iterativa e eles precisariam testar pelo menos 20 alternativas em várias dosagens paralelamente. Para conseguir progredir precisaram usar conhecimentos que já tinham sido desenvolvidos e divulgados publicamente (como o sequenciamento do código genético feito pelo professor chinês Zhang Yongzhen) e mobilizar diferentes profissionais para superar dezenas de obstáculos que iam aparecendo. Thomas Ziegenhals e Johanna Drogmuller sugeriram o uso de templates de DNA para acelerar o processo de síntese; Lena Kranz e Mathias Vormehr cuidaram da medição da resposta imune de cada alternativa testada; Alex Muik surgiu milagrosamente de dentro de outra equipe da BioNTech para testar o poder neutralizador dos anticorpos que não poderiam mais ser feitos num laboratório italiano bloqueado pelo lockdown. Além de todos os problemas científicos Uğur e Özlem e o time de liderança da BioNTech precisavam lidar com as dezenas de pequenos desafios operacionais para dar condições de trabalho em meio à pandemia e evitar a contaminação por Covid-19 das pessoas que trabalhavam na empresa, e mais diretamente no projeto Lightspeed. Com grande resiliência e paciência cada um dos obstáculos foram superados. Com Uğur sempre enfatizando que em cada uma das difíceis situações que emergiam os líderes não poderiam criticar os reveses. Deveriam sempre encorajar os times e alavanca a auto confiança. Com isso cada dificuldade foi superada e os testes realizados.
Capítulo 6: Forjando Alianças.
Desde o início do projeto, ficou claro que a BioNTech só poderia seguir sozinha durante as pesquisas iniciais e os primeiros testes. Depois precisaria de um parceiro com peso de uma Grande Farmacêutica para os testes em grande escala, logística e imagem diante dos usuários. A experiência de Uğur e Özlem no relacionamento com investidores e grandes empresas ajudou nesse sentido. Desde o início o casal esteve determinado a priorizar a excelência científica ao lucro de curto prazo. A primeira empresa fundada por eles depois de serem rechaçados pelas grandes farmacêuticas, Ganymed, pode prosperar e ser vendida por 1,4 bilhões de euros por contar com o apoio de investidores (da Athos) com visão de longo prazo fascinados pela potência científica dos seus líderes. A segunda, BioNTech, foi financiada pelos mesmos investidores que tiveram a paciência para esperar os enormes avanços científico acontecerem, abrindo mão de rentabilizar pequenas descobertas. Durante muitos anos a organização ficou nas sombras pois lidava com uma tecnologia que era considerada ficção científica e ridicularizada por muitos especialistas. A dificuldade em manter essa filosofia ficou ainda maior quando empresas como a Moderna e CureVac passaram a apresentar resultados mais rápidos e contar com o apoio de investidores mais focados nos ganhos menos longos. Mas com um pouco de sorte e a atuação de profissionais competentes e persistentes na captação de recursos as coisas foram acontecendo e no final de 2019 ela se tornou uma companhia pública. Alguns projetos ligados à Influenza foram iniciados em conjunto com a Pfizer, o que serviu de base para o estabelecimento de laços iniciais entre as duas empresas. No início do Covid-19, a grande farmacêutica não acreditava em uma pandemia nem na força da jovem empresa na área de vacinas e, portanto, não aceitou a aproximação com a BioNTech, mas na medida em que o número de mortes aumentava em escala exponencial ficou claro que a parceria era a coisa a fazer, principalmente porque existiam líderes da área científica da Pfizer que entenderam o potencial do mRNA e o nível de evolução que a biotech tinha alcançado nessa área. Num exercício de confiança mútua de Uğur e Albert (CEO da Pfizer) a transparência e compromisso mútuo foram cascateados por toda a organização, com advogados, burocratas e cientistas trabalhando duro e de forma empreendedora, permitindo a costura de um acordo em tempo recorde. Um outro acordo com a empresa chinesa Fosun também foi costurado com agilidade para que essa última pudesse ajudar a BioNTech a fazer testes na China e vender as vacinas no país. No início do projeto conjunto, houve ruídos na comunicação entre BioNTech e Pfizer, inclusive com os cientistas da BioNTech resistindo abrir todos os segredos para a grande farmacêutica, mas Uğur interferiu enfatizando a importância de cada uma das partes usar seus pontos fortes de forma aberta e deixar a outra fazer o sabia de melhor.
Capítulo 7: Primeiro em Humanos.
Para conseguir testar a vacina em humanos a tempo de salvar milhões de vitimas, foi necessário, primeiro, repensar os protocolos de testes em animais de forma, simultaneamente, criativa e segura. A aplicação de doses em pequenos intervalos em roedores era arriscado, por poderia causar reações amplificadas, mas se funcionasse indicaria menor probabilidade de consequências tóxicas em seres humanos. E assim foi. Apesar de voluntários para os testes em humanos abundarem, haviam muitos obstáculos a superar antes da aplicação nas pessoas: o staff de profissionais para preparar as doses precisariam ser ampliados significativamente; o ritmo de aplicação das doses deveria prever um número de aplicação gradativamente crescente para garantir que em caso de reações adversas pouquíssimos indivíduos tivessem problemas; o calendário deveria ser meticulosamente planejado para as datas de aplicação não cairem nos fins de semana evitando o risco dos contratados para as aplicações estarem impossibilitados de trabalhar; um programa de treinamento dos envolvidos deveria ser elaborado com grande detalhe; e um guia de acompanhamento clínico dos voluntários deveria ser elaborado para não haver sustos com efeitos colaterais esperados, interrompendo desnecessariamente o estudo. Nesse último tópico as competências de Özlem foram fundamentais. Sua capacidade de traduzir ideias complexas de forma simples e compreensíveis para não especialistas, complementava a visão complexa e fragmentada de Uğur, tão importante para o desenvolvimento da vacina, mas complexa demais para que os não cientistas entendessem. Também foi importante convencer as autoridades que a experiência da BioNTech na aplicação do RNA em pacientes com câncer e os estudos toxicológicos iniciais mostravam que as reações adversas já apareceriam em 24 horas, se fosse o caso, acelerando os protocolos de testagem. Outro desafio foi escolher entre os 20 candidatos testados em cobaias, aqueles que deveriam prosseguir para a avaliação em humanos, já que todos se mostraram eficazes. O desafio era apontar as moléculas com maior potencial de equilibrar quantidade de produção dos antígenos e estímulo ao sistema imunológico sem causar sérios efeitos colaterais. Mudanças de última hora em função de informações inesperadas emergindo dos testes exigiram flexibilidade da equipe e uma relação de confiança com as entidades reguladoras. Em 21 de abril de 2021 os testes em pessoas foram autorizados e dia 23 aconteceu o histórico momento da primeira dose aplicada. Com os primeiros voluntários dosados começou a agonizante espera pelos primeiros sinais da reação em humanos. Os primeiros sinais positivos geraram esperança e a confirmação da eficácia em doses menores indicaram que a capacidade de cobertura seria, potencialmente, o triplo do esperado, pois com menor necessidade de substância ativa, seria possível produzir um maior número de doses em menos tempo. Com a ampliação do número de resultados aferidos foi ficando claro que o impossível estava acontecendo: a humanidade teria uma vacina.
Capítulo 8: Por Nossa Conta.
Para a maioria dos profissionais da BioNTech a forte resposta imune dos participantes do estudo inicial significou o fim dos trabalhos. Mas para o time de produção das doses das fases seguintes do teste, o trabalho estava no início. E não foi fácil. Com estruturas industriais pequenas estabelecidas para produção de moléculas focadas no combate ao câncer, enorme dificuldade de adquirir novas instalações e falta de apoio financeiro oficial, produzir a quantidade de substância ativa necessária (pelo menos 10 vezes o máximo do que se estava acostumado) o êxito começou a parecer improvável. Além do que, o risco de fracasso ainda batia à porta. Além da probabilidade da vacina não funcionar em larga escala (cada vez menor) existia a possibilidade de muitas vacinas surgirem ao mesmo tempo, deixando a BioNTech, com um volume de vendas pequeno e uma conta enorme para pagar; levando a empresa a insolvência e seu fim. Os custos de todos os insumos se elevavam de forma acentuada, muito em função de todas as candidatas a produção estarem comprando preventivamente o que talvez viessem a precisar quando suas respectivas soluções estivessem aprovadas. Uma preocupação adicional era que, para pagar suas contas, a BioNTech teria que contar com uma estrutura de vendas, marketing, relações governamentais e farmacovigilância que não tinha e precisaria estruturar. O preço também era uma questão relevante: ao mesmo tempo que o senso de propósito de Uğur e Özlem apontavam para a necessidade de vender o mais próximo possível do custo para salvar o máximo de vidas, exagerar significaria fadar a empresa ao fim, interrompendo o sonho de salvar ainda mais vidas, posteriormente, com os projetos de combate ao câncer da BioNTech. Como ainda existiam muitas variáveis indefinidas, as estimativas de custos deveriam ser o mais pessimistas possível o que elevou o preço inicial a 54 Euros por dose, gerando uma certa tensão no governo alemão. O humor começou a mudar quando BioNTech e Pfizer anunciaram os primeiros resultados que apontavam para uma resposta imune poderosa das vacinas sendo testadas. As ações da BioNTech saltaram e com algumas incertezas encaminhadas a estimativa do preço por dose caiu para 17,50 Euros. O governo britânico foi o primeiro a fechar um contrato preventivo para a aquisição de 30 milhões de doses. A Comunidade Européia tinha dificuldade de articular o interesse de todos os países e os mais pobres questionavam o motivo de adquirir vacinas com tecnologias mais sofisticadas (como a do RNA) se parecia claro que outras com tecnologias tradicionais mais baratas também se viabilizariam. Acordos com Japão, Canadá e Israel também foram fechados. Enquanto isso, Uğur e Özlem tiveram que resistir as pressões para liberar uma versão viável da vacina, pois acreditavam que uma versão excelente estava prestes a confirmar seus efeitos nos testes. Tal versão parecia indicar que poderia promover o estímulo de produção de anticorpos e células T, o que as versões viáveis iniciais não fazia tão bem. Todos os resultados iniciais positivos facilitaram a compra de novas instalações industriais o que renovou as esperanças de que a BioNTech conseguiria produzir as vacinas na escala necessária para os testes em todo o mundo. Enquanto isso, nos Estados Unidos a proximidade das eleições geravam pressões políticas para a aprovação final da vacina, e a população desconfiava da seriedade das decisões ligadas ao tema, o que foi parcialmente debelado através de declarações realizadas por uma coalizão entre as grandes farmacêuticas. O fato é que a resistência às pressões aconteceu e a vacina emergiu baseada em decisões científicas e não políticas.
Capítulo 9: Funciona!
A BioNTech se transformou de uma empresa que tinha produzido poucos milhares de doses de drogas em doze anos em uma outra que manufaturou dezenas de milhares em poucas semanas. No início Uğur e Özlem não sabiam se a Covid-19 poderia ser prevenida ou se juntaria às patogenias como HIV e malária contra as quais a humanidade tinha falhado em se proteger. As primeiras fases de testes apontavam para resultados positivos, mas apenas a fase final poderia afirmar com segurança. Enquanto as aplicações experimentais aconteciam, os cientistas tentavam controlar a ansiedade, até o momento em que os estudos chegaram ao fim e o nível de proteção se mostrou ainda maior do que se esperava. Além do alívio de saber que ela não causava danos àqueles que contraiam a doença posteriormente. O valor das ações de Pfizer e BioNTech dispararam. O início do fim da pandemia foi declarado pelo The Economist. Uğur e Özlem comemoraram efusiva, mas rapidamente e começaram a olhar para frente. Afinal, sempre há um outro lado da moeda, e alguns grupos políticos europeus começaram a falar sobre a frieza capitalista (no sentido negativo) da BioNTech e enfatizar que uma molécula criada na Europa iria ver metade das riquezas provenientes dela indo para os Estados Unidos através da Pfizer. O fato da vacina da BioNTech ter que ser transportada a 70 graus negativos, também era motivo de preocupação e muitos priorizaram aquela da Oxford/AstraZeneca pela conveniência logística. De qualquer forma em 8 de dezembro de 2020 a primeira dose da vacina BioNTech foi aplicada no Reino Unido e a cada história publicada com pessoas se vacinando o casal de cientista sentia a plenitude de saber que por fim a ciência estava ajudando pessoas reais. Outros países foram autorizando em caráter de urgência o uso da molécula. Problemas de qualidade de produção em lotes muito elevados apareceram e foram resolvidos em conjunto pelas organizações parceiras.
Capítulo 10: O Novo Normal.
Apesar de tudo caminhar bem, o aparecimento de novas variantes passaram a preocupar o mundo. Mas Özlem e Uğur estavam tranquilos, dentro do possível, pois a estrutura dos novos vírus não eram significativamente diferentes dos iniciais. E caso a estrutura mudasse, o caminho para produzir uma nova vacina rapidamente estava desbravado. A única dúvida era se os órgão reguladores exigiriam novos testes de fase três. Sem contar que a insistência de Özlem e Uğur para esperar a criação de uma vacina que ao mesmo tempo ativasse tanto o sistema inato quanto o adaptativo (não as primeiras que apareceram e que não eram tão ativas com o sistema adaptativo) dava segurança de que a maioria dos patógenos seria combatida apropriadamente. Estudos em massa em Israel mostraram que o nível de eficácia na vida real atingia até 97% na prevenção de contaminação e morte. Um certo decréscimo na efetividade em alguns locais parecem estar mais ligados à diminuição da ação da vacina ao longo do tempo, o que indica que o novo normal vai requerer mais doses e até uma vacinação periódica por muito tempo. Uğur e Özlem continuaram sendo reconhecidos publicamente e o fato de serem ambos de origem turca começaram a levantar discussões políticas das quais ambos se afastaram, conscientes de que suas situações poderiam inspirar outros imigrantes, mas mais preocupados em promover a ciência e os fatos do que entrar em embates ideológicos. O fato é que a equipe do Projeto Lightspeed tinha pessoas de mais de sessenta países, sendo metade de mulheres; o que indica o poder da diversidade. A própria parceria entre Albert Bourla CEO da Pfizer e Uğur Şahin, se baseou muito no fato de serem ambos cientistas e migrantes. Outra reflexão que emergiu desse empreendimento foi a importância de fomentar a jornada entre pesquisa e empreendedorismo, estimulando estudiosos a trazerem para a aplicação suas incríveis descobertas. Uma terceira reflexão diz respeito ao tipo de processo que deve ser usada para aprovação de drogas em momentos de emergência. A preocupação é criar métodos ágeis sem, contudo, ofender a ética. Para o casal de cientistas essa grande conquista foi apenas uma etapa em sua jornada rumo a um objetivo ainda mais ambicioso da cura do câncer, que com toda a atenção e recursos obtidos ficou bem mais promissor. Outras doenças também podem se beneficiar do RNA. Mas Özlem enfatiza: esse é apenas o começo.
Epílogo
O sucesso da BioNTech mostra que devemos dar mais atenção àqueles que estão nas beiradas do conhecimento médico e os com bolsos mais fundos precisam correr mais riscos, afinal o conjunto de elementos que precisam se conectar para uma grande ruptura acontecer exige certa serendipidade. E a grande conclusão desse livro é que, apesar de toda a ciência e diligência de centenas de pessoas terem sido fundamentais para essa grandiosa conquista o ingrediente chave da vacina que salvou milhares de vidas não foi o RNA, mas o casal Özlem e Uğur, seus caracteres, suas ideias e suas capacidades de atrair pessoas alinhadas com seus propósitos.
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Referência: livro ‘The Vaccine’ do autor Joe Miller.