O branding dos Rolling Stones
Como uma banda cruza gerações, e continua vendendo como nunca após quase meio século de existência?
A banda fundada por Mick Jagger e Keith Richards em 1962 cruzou quatro décadas de história e construiu uma marca arrasadora e que fatura centenas de milhões de dólares todos os anos. E todo esse poder e misticismo criado em torno da marca “Rolling Stones” tem seus motivos, e muitos. A banda começa sua carreira já percebendo um Gap no mercado do Rock britânico, e aproveita a Beatlemania para vender discos, muitos discos. Os Stones passaram a década de 60 fazendo exatamente o oposto do que os garotos de Liverpool faziam (criando a máxima do rock de aproveitar o mercado indo contra o mainstream). Se os Beatles tinham uma postura exemplar, os Stones adotavam uma postura transgressora (no final da década de 60 os Stones lançam a campanha: “Would you want your daughter to marry a Rolling Stone? – Você gostaria que sua filha se casasse com um Rolling Stone?), se os Beatles lançavam Let It Be os Stones lançavam Let It Bleed, se os Beatles eram uma banda de discos (afirmado por Mick Jagger), o próprio Jagger afirmava que os Stones eram uma banda de concertos, e por aí foi até o fim da década de 60. Com o fim dos Beatles, os Stones sentem necessidade de se firmarem em solo americano (poderoso mercado da música), e como naquele país se ouvia muito Rock Psicodélico (Hendrix, Joplin, Doors, etc), muito atentos às necessidades do novo mercado lançam em 67 o psicodélico álbum Their Satanic Majestic Request (mais uma vez em resposta aos Beatles, dessa vez Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band). Com boa aceitação no mercado dos EUA, partem para a grande jogada. Em 1969 os Stones organizam um concerto gratuito histórico para mais de 600 mil pessoas em Altamont, Califórnia. O show vende até hoje (gerou um documentário DVD chamado Gimme Shelter) e firmou definitivamente os Rolling Stones na terra do tio Sam.
Na década de 70 os Stones continuam na mesma toada para a construção de sua marca. No começo da década a banda muda para a Atlantic Records e cria seu próprio selo, o Rolling Stone Records. O álbum Sticky Fingers (primeira aparição da icônica marca da “boca”) tem capa desenhada pelo maior ícone da cultura pop da época, o excêntrico Andy Warhol. Com a capa polêmica de Andy e o conteúdo dos Stones, obviamente o disco vende muito!
Visionários e buscando novos mercados, na década de 70 os Stones aproveitam mais uma oportunidade e lançam Some Girls, álbum mais punk da banda, seguindo o movimento que estava explodindo no mundo todo com Ramones, The Clash e Sex Pistols. Anunciam ainda shows (posteriormente vetados) em países fora do eixo Europa-EUA, incluindo o Brasil.
Na década de 80, os Stones lançam o álbum mais vendido da história da banda e começam a observar o que o Kiss (a banda que mais levou a sério o conceito de marketing na música*) vinha fazendo em seus shows. Assim, a década de 80 vira a década dos mega-concertos dos Rolling Stones. E se o conceito deu certo com o Kiss, ele funcionou ainda melhor com os Stones que se firmaram como maior banda de Rock de todos os tempos e venderam como nunca.
A década de 90 é aberta pela turnê Flashpoint impulsionada pela abertura dos shows, pelos já bem conhecidos na época Guns’n’Roses (além do boato da separação da banda).
Foi também à partir dessa turnê que os Stones tornaram-se experts nos negócios, transformando-se em uma banda multimilionária, com administração autônoma e profissional, alcançando espaços na mídia até então nunca vistos, tendência que permitiu as sucessivas bem-sucedidas turnês seguintes e um exemplo de exposição e fixação da “marca” The Rolling Stones.
Da década de 90 em diante, os Rolling Stones continuaram a faturar muito, a se fortalecer como marca, a explorar mercados, e a se apoiar em tudo o que haviam construído em mais de 30 anos de música. A turnê do Voodoo Louge faturou US$370 milhões, seguida das gigantescas Bridges to Babylon e Licks Tour (que passou por todos os continentes do planeta).
Em 2005 a banda lança A Bigger Bang que foi considerado um dos seus melhores álbuns de estúdio e parte para a maior turnê musical que o planeta já viu. A histórica passagem por Copacabana contou com uma platéia de 1,4 milhão de pessoas (eu estava lá) e A Bigger Bang Tour termina o ano com o maior faturamento já obtido na história da música, US$570 milhões.
Com um excelente serviço entregue ao seu cliente (música de altíssima qualidade), aproveitando inúmeras oportunidades de mercado, seguindo tendências, com uma logística de distribuição incontestável (sempre foi a banda que quebrou fronteiras em suas apresentações), e sempre se adaptando ao mercado e a realidade do momento, os Rolling Stones se firmam como a maior banda de todos os tempos, faturam milhões e milhões de dólares, fidelizam pessoas ao redor do planeta e criaram uma das marcas mais incontestáveis da história do marketing. Seguindo a máxima de Charles Darwin (de que quem sobrevive não é o mais forte nem o mais inteligente, e sim o mais adaptável a mudanças), os Stones se adaptaram perfeitamente a cada momento do mercado do Rock e se impõe cada vez mais como lendas após 47 anos de estrada e com mais de meio bilhão de álbuns vendidos. Será que sua empresa consegue se adaptar a todas as mudanças que o mercado apresenta com a versatilidade dos Rolling Stones? Bom, o exemplo está aí.
O que será que podemos esperar para 2012, quando a banda completa meio século de estrada?
E fica uma dica de leitura interessante. Uma análise sobre as jogadas de marketing do Kiss no Brainstorm 9.
http://www.brainstorm9.com.br/2009/04/06/kiss-musica-ou-marketing/
Fica a sugestão de vídeo, com o Rolling Stones tocando seu maior clássico diante de mais de 1 milhão de pessoas na praia de Copacabana.