Tema apenas o Medo
Talvez o medo tenha sido um motivador eficaz para a execução de tarefas repetitivas, mas estudos disponíveis (consonantes com nossa experiência de 30 anos no mundo corporativo) mostram que para atividades que exigem criatividade e cognição um pouco mais sofisticada, seu efeito é bastante negativo. Diante da sensação da ameaça, o cérebro humano entra em um estado de foco absoluto naquilo que considera perigoso e perde parte significativa de suas funções mais elevadas. Então, para se obter sucesso na economia do conhecimento é fundamental cultivar um ambiente que ofereça “Segurança Psicológica” para as pessoas, o que não significa ser leniente com o baixo desempenho. Aliás, o ideal é somar segurança psicológica com alta exigência, dando à luz as melhores condições para a explosão de performance.
Em ambientes seguros psicologicamente as pessoas falam com mais frequência sobre suas percepções e perspectivas diminuindo os “pontos cegos” da alta liderança – que podem se transformar em ameaças fatais para as organizações. Além disso, em empresas onde o medo não se faz presente de forma ostensiva, as pessoas correm mais riscos e oferecem mais ideias relevantes reforçando uma cultura intrapreendedora, fundamental para a sobrevivência e prosperidade corporativa.
Nesse sentido os líderes têm um papel fundamental. É deles o desafio de fazer com que as pessoas acreditem que podem agir de forma diferente daquela preconizada ao longo das últimas décadas — ou séculos — quando obedecer a hierarquia, não melindrar o chefe e agir ao comando de gestores pretensamente perfeitos era a única garantia de sobrevivência profissional.
Mais do que isso os líderes precisam criar o clima no qual cada pessoa se sinta livre para opinar sobre áreas diferentes das suas, mas que também seja receptiva às interferências dentro do seu quintal.
Para tal, Amy Edmondson, em seu livro Fearless Organization, oferece uma caixa de ferramentas para o líder tirar a questão da esfera abstrata e fazê-la aterrissar no solo corporativo. Ela sugere que os gestores atuem em três grandes áreas:
- Criando o clima para a emergência da segurança psicológica
- Incentivando genuinamente a participação das pessoas e
- Sinalizando que as participações são realmente bem vindas
Para criar um clima compatível com a segurança psicológica o líder deve: mudar a percepção com relação ao fracasso, mostrar a importância da expressão das percepções e preocupações e motivar os esforços de mudança.
Para incentivar genuinamente a participação ele deve: mostrar que é humilde o suficiente para admitir que não tem todas as respostas, pedir ativamente a opinião e criar foros onde todos possam se manifestar com tranquilidade.
Para sinalizar a receptividade com relação à participação o gestor precisa: expressar frequentemente a apreciação às contribuições, desestigmatizar o fracasso e sancionar violações ao comportamento desejado.
Publicado originalmente em: https://www.linkedin.com/pulse/tema-apenas-o-medo-yuri-trafane/