Falando umas Verdades!
É impossível fazer alguém rever suas próprias crenças e comportamentos? Tentando impor uma visão de fora, é, sim, praticamente, impossível. Existem situações muito específicas em que isso pode funcionar, mas, geralmente, o “tiro sai pela culatra”.
Aquele seu colega de trabalho tinha um defeito terrível. Ele não conseguia perceber, mas além de te irritar profundamente, ele estava arruinando a própria carreira. Você precisava fazer alguma coisa. Seja em benefício próprio, para não explodir, seja pelo mais puro altruísmo.
Encheu-se de coragem e foi falar com ele. Disse todas as verdades que ele precisava ouvir. Funcionou? Não. Desse jeito quase nunca funciona. Esse seu amigo, provavelmente, seguiu um dos três caminhos mais comuns em situações assim: ou se justificou e defendeu seu comportamento como algo válido (talvez de forma agressiva), ou fingiu que escutou e concordou, mas te ignorou, ou pior, se ofendeu, ficou triste com você e se afastou enfraquecendo ou rompendo o relacionamento.
É o famoso fight, fligh or freeze (lutar, fugir ou congelar) que os neuropsicólogos evolucionistas citam para explicar as reações biológicas de um ser que se sente
atacado (mesmo que você não pretenda atacar, é assim que é percebido quando dá feedbacks corretivos, pode apostar).
Então, não tem jeito? É impossível fazer alguém rever suas próprias crenças e comportamentos? Tentando impor uma visão de fora, é, sim, praticamente, impossível. Existem situações muito específicas em que isso pode funcionar, mas, geralmente, o “tiro sai pela culatra”. Frequentemente, a outra pessoa se afunda ainda mais em seus posicionamentos.
O único caminho viável é conseguir fazer a pessoa entrar naquilo que Marcia Reynolds chama de Zona de Desconforto, em seu livro homônimo: um momento de incerteza no qual elas ficam mais abertas às mudanças.
A premissa fundamental para levar alguém para a Zona de Desconforto é que exista uma relação de confiança entre vocês. Sem isso, a chance de funcionar é muito pequena. No mínimo, o outro precisa acreditar que você não tem uma agenda oculta. Nesse sentido é importante que você tenha um interesse genuíno em ajudar.
Se o principal objetivo for extravasar sua raiva ou resolver o seu problema, isso vai escapar de alguma forma nas suas mensagens (às vezes, por meio do tom de voz ou dos sinais não verbais) e os resultados não virão.
Uma vez que essas condições estejam estabelecidas, é importante começar a abordagem tentando entender a perspectiva do outro de forma mais verdadeira possível e, a partir daí, fazer perguntas que levem a pessoa a refletir sobre o posicionamento que está adotando e as consequências.
A forma de iniciar a conversa e o tipo de perguntas feitas são dois dos ingredientes fundamentais. Mas não adianta eu tentar explicar isso aqui, de forma apressada e em poucas linhas. Seria superficial e incompleto, causando-lhe mais danos que benefícios.
Meu objetivo com esse artigo é chamar a sua atenção para a abordagem que a ciência do comportamento nos mostrou que não funciona e sinalizar que existe uma forma que funciona.
E se você se interessar existem muitos cursos, livros e outros recursos que podem lhe ajudar nesse sentido. Dois livros que podem lhe ajudar nessa caminhada são: o próprio The Discomfort Zone, de Marcia Reynolds (esse apenas em inglês); e Conversas Difíceis, de Bruce Patton, e outros. Um terceiro um pouco mais amplo em seus propósitos, mas ainda sim muito interessante é o Pense de Novo, de Adam Grant.
Este artigo foi escrito por Yuri Trafane e originalmente publicado pela UP PHARMA.