Resumo do Livro “Mindsight” (Visão Mental) de Daniel Siegel
De um pioneiro no campo da saúde mental, chega um livro inovador sobre o poder de cura da “visão mental”, a potente habilidade que lhe permite fazer mudanças positivas no seu cérebro e na sua vida.
Preparamos por aqui um resumo para você! E se gostar, corra para a sua livraria favorita.
Introdução
Mindsight é um tipo de atenção focada no funcionamento de nossa mente. Isso nos conscientiza sobre nossos processos mentais evitando que nos comportemos automaticamente através de reações impulsivas. E quando fazemos isso podemos, inclusive impactar a estrutura física do nosso cérebro. Essa capacidade de olhar dentro da nossa mente e percebê-la, refletindo sobre nossa experiência, influencia diretamente nosso bem estar. Os três princípios fundamentais nessa jornada são: (1) Mindsight pode ser cultivado através de três passos muito práticos; (2) Quando fazemos isso mudamos a estrutura física do nosso cérebro; (3) O bem estar vem quando usamos o Mindsight para ganhar uma perspectiva integrada das coisas.
Parte 1: O Caminho para o Bem Estar, Mindsight Iluminado.
Capítulo 1: O Triângulo do Bem Estar.
Conhecer o funcionamento do cérebro, de alguma forma, permite às pessoas ganharem distância suficiente para entenderem a si mesmas, aos outros e suas relações. E uma estrutura, particularmente importante de se conhecer é o Córtex Pré-Frontal: uma área do cérebro que gera representações complexas, nos permitindo pensar sobre o passado, criar conceitos no presente e planejar o futuro. É aí também que reside a capacidade de representar a própria mente, naquilo que o autor chama de Mapas de Mindsight, incluindo o Meu-Mapa, o Seu-Mapa e o Nosso Mapa. Com isso é possível entender como cérebro, mente e relacionamentos se conectam constituindo o triângulo do bem-estar.
Sobre o Cérebro: nosso cérebro pode ser, didaticamente, dividido em três partes com funções particulares (embora fortemente interconectadas). O tronco cerebral regula processos fisiológicos básicos como o funcionamento do coração e pulmão além de dirigir as relações com o corpo a partir de estímulos em situações que requerem mobilização rápida de energia. As regiões límbicas são responsáveis pelas nossas emoções e têm capacidade de avaliar eventos que nos cercam definindo se são bons ou ruins. O córtex nos permite pensar de forma mais elaborada e analítica, imaginando, combinando fatos, criando e fazendo algo que apenas os humanos conseguem fazer: pensar sobre o pensamento.
Capítulo 2: Perdendo e Achando o Mindsight.
Enquanto nossa mente está funcionando bem e de forma integrada nossos relacionamentos prosperam. Mas as vezes “perdemos a cabeça” e agimos de forma que não queremos. Isso acontece quando as partes mais primitivas de nosso cérebro inibem o funcionamento do nosso córtex e perdemos algumas funções que ele realiza, dentre as quais, nove são particularmente importantes: regulação das funções automáticas; comunicação conectada; equilíbrio emocional; resposta flexível com espaço entre estímulo e ação; modulação do medo; empatia; insights de autopercepção; consciência moral e intuição. Para retomar nosso funcionamento integrado precisamos de tempo para acionar um funcionamento baseado em um tripé comportamental: abertura; observação; e objetividade.
Sobre o Cérebro: a ciência vem constatando que nossa capacidade de dirigir a atenção para aspectos específicos da nossa vida tem o poder de modelar o cérebro fisicamente, levando a mudanças na forma que nos comportamos. Atividade mental gera respostas cerebrais que criam atividades mentais. Da mesma forma que nosso cérebro molda nossa mente; nossa mente pode moldar nosso cérebro.
Capítulo 3: Onde está a Mente.
A mente humana é um processo relacional e corporificado que regula o fluxo de energia e informação. É através desse processo que as informações que recebemos através dos sentidos externos e internos ao nosso corpo inteiro são recebidas, processadas, ganham significado e geram ações. E as descobertas mais recentes mostram que temos também a capacidade de emular internamente o funcionamento do cérebro das pessoas que nos cercam e que essa é a base biológica da empatia, presente em todas as pessoas saudáveis. Fazemos isso através de um tipo específico de neurônio chamados neurônio espelho.
Capítulo 4: Descobrindo a Harmonia da Saúde.
A integração está na base da ausência de doenças mentais e da presença de bem estar. É essa integração que permite a mente (que é um sistema complexo auto-organizado) se equilibrar entre o caos e a rigidez se tornando FACES (Flexível, Adaptável, Coerente, Energizada e eStável). E existem oito tipos de integração: da consciência (integrando consciência com o automatismo); horizontal (integrando cérebro esquerdo e direito); vertical (integrando tronco cerebral, sistema límbico e córtex); memória (integrando passado e presente); narrativa (integrando diferentes fatos de nossa vida numa história coerente da vida); estado (integrando os diversos estados mentais); interpessoal (integrando-nos às outras pessoas e os impactos que elas tiveram em nossas vidas ao longo da história); temporal (integrando a vida com a finitude da vida).
Parte 2: O Poder para Mudar, Mindsight em Ação.
Capítulo 5: Fortalecendo o Eixo da Consciência.
Atenção plena é definida como uma forma de prestar atenção intencionalmente e sem julgamentos no momento presente. E os estudos apontam esse estado (junto com exercícios físicos e novidades) como grandes fatores de estímulo à neuroplasticidade que permite o desenvolvimento físico do cérebro. Mindfulness é uma forma de atividade mental que treina a mente a se tornar consciente dela mesma e prestar atenção às nossas intenções nos levando a um estado de bem-estar elevado. Com a prática, um estado “mindful” se transforma num traço “mindful” perene. A consciência é como um instrumento musical no qual você se torna mais proficiente quanto mais você pratica.
Capítulo 6: Equilibrando Direita e Esquerda.
O hemisfério direito do nosso cérebro recebe os inputs da parte interna do nosso corpo, nossas emoções e imagens das experiências vividas que geram nossa memória autobiográfica, Ele é a fonte da nossa essência emocional e social e funciona de forma mais analógica. Ele se desenvolve mais cedo é mais holístico, não verbal, metafórico e sensitivo. Já o hemisfério esquerdo é a origem da nossa razão e ideias abstratas. Ele se desenvolve depois é linear, linguístico, lógico, literal e rotulado e funciona de forma mais digital. Quando uma dessas dimensões não se desenvolve com a mesma profundidade da outra, acontece um desequilíbrio que pode ser corrigido através de exercícios que estimulam a atenção a partes específicas do corpo ligadas a cada uma das duas metades do cérebro (body scan) ou atividades e jogos que estimulam o desenvolvimento de partes do cérebro menos desenvolvidas.
Capítulo 7: Reconectando a Mente e o Corpo.
Adaptar nosso funcionamento mental para nos defender de situações dolorosas é um recurso positivo, que pode trazer problemas quando a situação deixa de existir e nós continuamos funcionando como se ele ainda existisse. Nosso cérebro tem o poder de bloquear a energia que vem do nosso tronco cerebral em direção ao nosso córtex para nos proteger de dores emocionais nas fases iniciais da nossa vida, mas se não acontece uma reconexão entre essas duas dimensões do nosso cérebro as consequências na mente são causadoras de sofrimento e podem gerar uma vida com certo torpor e incapacidade de vivenciar as emoções. E existem abordagens que permitem focar a atenção para estimular o restabelecimento dessas conexões.
Capítulo 8: Memória, Trauma e Recuperação
Memória é a forma como uma experiência em um momento passado nos influencia no momento presente. E nós temos dois tipos de memória: implícita e explícita. A memória implícita nos faz registar eventos sem que tenhamos acesso consciente nem ancorado no tempo. Ela é resgatada através de sensações e impulsos sem que se compreenda exatamente porque ele existem. A memória explicita é consciente e ligada a um momento específico. E pode ser resgatada de forma ordenada através de pensamentos claros e ancorados num momento do tempo. Experiências traumáticas podem gerar memórias implícitas e ao mesmo tempo apagar ou distorcer memórias explícitas. Isso faz com que tenhamos sensações e impulsos sem entender os motivos ou origens. Na medida em que resgatamos conscientemente as memórias traumáticas e as integramos à nossa consciência, podemos evitar o sofrimento e os comportamentos disfuncionais provenientes do trauma.
Capítulo 9: Conexão e a História que o Cérebro Conta.
Nossa vida é composta de infindáveis momentos e experiências que costuramos em uma história que nos define para nós mesmos. Dessas experiências, um tipo é particularmente importante, por ser a base sobre a qual se constrói essa história: aquelas vividas no início da infância e que dizem respeito ao nível de conexão que temos com outras pessoas, sendo fundamental que sintamos que estivemos presentes no mundo interno de pelo menos um outro ser humano. Do ponto de vista neurobiológico existem evidências que sugerem que esse tipo de conexão promove o crescimento de fibras integrativas de uma região do cérebro responsável por organizar essas histórias. A forma como nos sentimos com relação ao nosso passado, nossa compreensão sobre o porque as pessoas agiram como agiram e o impacto desses eventos no nosso desenvolvimento adulto são o estofo da nossa história de vida. O uso concomitante de conversas e exercícios específicos para ativar parte do cérebro não desenvolvidos na infância têm o poder de reestabelecer estruturas físicas que conseguem nos ajudar a reorganizar de forma coerente essas histórias.
Capítulo 10: Entrando em Contato com a Essência.
Nossa mente tem a capacidade de assumir infindáveis estados para nos preparar para viver todas as situações que precisamos enfrentar. Para cada momento específico ela prepara um conjunto de recursos e informações que nos serão úteis. Esses estados mentais são construídos com base em nossas experiências passadas, e influenciam bastante (e até distorcem) a forma como percebemos as coisas. O desafio é conseguir separar o que realmente é fruto da experiência que estamos vivendo no presente e o que carrega viéses das nossas experiências passadas, principalmente aquelas problemáticas. Para isso é importante entender que aquilo que somos é a soma de todos esses diversos estados mentais, que as vezes são sinérgicos e as vezes são antagônicos. Exercícios que permitem identificar, nominar e dialogar com esses diversos estados permitem resgatar a coerência que pode emergir do conflito entre esses diversos estados.
Capítulo 11: Advogando um Pelo Outro.
O cérebro é um órgão social e nossos relacionamentos não são um luxo, mas um nutriente essencial para nossa sobrevivência. Para duas pessoas poderem desenvolver relacionamentos saudáveis é preciso garantir que elas consigam apresentar estados mentais receptivos e não reativos com relação ao funcionamento do outro. O caminho passa por garantir que cada um esteja integrado internamente e com a própria mente equilibrada de forma que a relação não seja nem de afastamento total, nem de anulação das duas essências, levando a um estado de interdependência. Para nos ligarmos como “nós” precisamos primeiro nos diferenciarmos como dois “eu’s”. E na medida em que nos conhecemos melhor, nos tornamos mais receptivos a conhecer o outro, pois com auto consciência e empatia, auto empoderamento e conexão, diferenciação e ligação nós criamos harmonia nos circuitos que ativam nosso cérebro social.
Capítulo 12: Confrontando Incerteza e Mortalidade.
Enquanto muitos animais têm sistemas nervosos que permitem antecipar eventos, apenas os seres humanos conseguem planejar. E o preço disso é a consciência da própria finitude. E o conflito entre a capacidade de criar uma narrativa coerente sobre a vida e a certeza da morte geram uma desintegração com potencial angustiante e um medo que pode caminhar no sentido de comportamentos obsessivos compulsivos. Esses comportamentos estão ligados à um mecanismo de rastreamento contínuo de perigos que todos temos, mas que em determinadas circunstâncias podem ficar super estimulados gerando ações disfuncionais. Métodos que permitem “negociar” internamente com esse mecanismo integrando-os ao resto dos mecanismos mentais, mesmo sem identificar a origem dos medos que o acionam, podem ser bastante efetivos.
Epílogo: Ampliando o Círculo e Expandindo o Self.
Atualmente é possível rastrear nossas rotas neuronais rumo à compreensão de quem somos individualmente. Quando essa visão individual está equilibrada conseguimos olhar para os outros e sentir suas próprias essências em um exercício empático. E quando nos envolvemos em algo maior criamos uma sensação de significado que é uma parte essencial da felicidade. O fato é que quando somos capazes de ver nossa própria mente a integramos em suas várias dimensões, promovemos bem estar físico, psicológico e interpessoal; dissolvendo nossa ilusão de que somos separados dos outros e nos fazendo entender que somos partes de um mundo maior.
Referência: Livro “Mindsight” (Visão Mental) do autor Daniel Siegel. Editora: Bantam.